O Carnaval é considerado uma das maiores manifestações culturais populares. É adorado por grande legião de brasileiros, mas seus bastidores são envoltos em mistérios e suposições. E há quem não tenha dúvidas, como o jornalista Henrique Acker, o qual avisa, no seu blog, que “não tem medo de dizer o que pensa”.
No Programa Faixa Livre, em 2019, Acker falou: “Se há uma coisa que não tem transparência nesse País é essa história das escolas de samba. Elas se transformaram em um grande instrumento de lavagem de dinheiro”. Aqui, ele lançou uma pergunta que deixa clara a subjetividade dos valores que permeiam os negócios das agremiações: “Você pode quantificar o salário de um carnavalesco, quanto vai gastar em um enredo?”.
Não só isso, convenhamos. Vejamos, por exemplo, as fantasias que são colocadas à venda para quem quer participar dos desfiles. Numa rápida pesquisa, uma fantasia de ala (para desfilar no chão) da Vai-Vai, de São Paulo, está em pré-venda por R$ 500,00, enquanto uma de composição (para seguir em um carro alegórico) estava por R$ 2.000,00 e se esgotaram na pré-venda. Quem compra a fantasia neste momento nem sabe como ela é – os primeiros que reservaram têm prioridades de escolha após a definição dos modelitos. Então, como foram calculados esses custos se as fantasias ainda nem estavam totalmente definidas?
“Tudo isso é uma porta aberta para a lavagem de dinheiro e sempre foi do jogo do bicho”, alardeia Acker. No programa, ele foi além ao afirmar que é nebulosa até a “relação das escolas de samba com a Rede Globo”, a qual acaba fechando contratos milionários de venda de cotas de patrocínio, e que “essa grana toda não é quantificada, são contratos que se mantêm em segredo porque são realizados com instituições privadas, e gera essa facilidade da lavagem de dinheiro”. Acker completa: “Bicheiro não está em escola de samba para fazer benesses, tem algum motivo para isso; e uma das formas que encontraram de lavar dinheiro é esse tipo de atividade”.
É muita coisa nesse balaio. Da paixão até inocente do povo que desembolsa para participar do desfile da escola de samba de sua paixão, do interesse de retorno (de marca e financeiro) dos patrocinadores ao estampar seu nome nos eventos carnavalescos e da cobertura e transmissão das imagens ao vivo pela mídia, indo até os supostos envolvimentos de atividades criminosas, como o jogo do bicho e sabe-se lá mais o quê capitaneado por facções do crime organizado...
Ora ou outra vem à tona uma notícia sobre lavagem de dinheiro sob o chapéu do Carnaval. Uma recente é a investigação da polícia civil de São Paulo sobre uma possível ligação da Vai-Vai com a facção criminosa PCC, conforme publicado por O Globo. “Dados obtidos pelo Coaf indicariam que a família de Luiz Roberto Marcondes Machado de Barros, o Beto da Bela Vista, [ex-]diretor financeiro e conselheiro da Vai-Vai, participe de lavagem de dinheiro. Seu irmão, Luiz Eduardo Marcondes Machado de Barros, o Du da Bela Vista, teria sido um dos autores do plano para resgatar chefes da organização na prisão, incluindo Marcola, com aviões e helicópteros. Ele está preso, e o plano foi desmantelado em 2014”, descreve o jornal. A defesa de Beto nega as acusações.
Não seria a primeira investigação envolvendo essa escola e o Beto. Em 2022, por exemplo, a polícia deflagrou uma operação para investigar suposta lavagem de dinheiro envolvendo a compra de um terreno para a Vai-Vai, segundo o portal R7. O alvo da ação era o próprio Beto, “que teria comprado um terreno por cerca de R$2 milhões. Um ano depois, o mesmo terreno teria sido vendido por mais de R$6 milhões para a própria escola de samba, configurando a prática de lavagem de dinheiro”. Beto também negou as acusações – e nada mais foi noticiado sobre essa investigação.
Em 2012, o alvo noticioso era o Carnaval carioca. O Extra publicou: “Justiça quebra sigilo da Liesa [Liga Independente das Escolas de Samba] e de seis escolas de samba suspeitas de lavar dinheiro do jogo do bicho”. As escolas citadas foram: Beija-Flor, Imperatriz Leopoldinense, Vila Isabel, Mocidade Independente de Padre Miguel, Viradouro e Grande Rio. A matéria dizia: “A suspeita de que o lucro do jogo do bicho e da exploração de caça-níqueis financiou desfiles também resultou no monitoramento das contas da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa), onde foram contabilizados R$35 milhões sem origem comprovada”.
Às vezes uma notícia desse tipo estampa a manchete dos grandes veículos de imprensa; outras estão apenas num pequeno registro como nota de rodapé. Entretanto, é uma informação que não pode passar batida pelo compliance da empresa, até para se ter consciência dos possíveis riscos e, assim, tomar decisões baseadas em fatos e dados.
Pense: quanto vale saber que aquele novo potencial cliente ou investidor novo teve seu nome envolvido numa operação de lavagem de dinheiro por uma atividade numa escola de samba, seja qual for ela?
É por isso que uma das funcionalidades da plataforma da Regcheq é justamente listar – a partir da pesquisa de nome, CPF e/ou CNPJ, por exemplo – tudo o que cita negativamente o indivíduo ou a entidade pesquisada. Conhecer, realmente, o seu cliente, o KYC (Know Your Customer), é uma ferramenta poderosa para mitigar riscos financeiros, operacionais e reputacionais. E, para isso, não tem preço; e, aliás, nem é um custo e, sim, um investimento.