Quando se fala em Prevenção à Lavagem de Dinheiro (PLD), correlacionamos esse crime, claro, ao âmbito financeiro, mesmo que ele possa abranger qualquer instituição ou empresa dos mais diferentes setores econômicos. Porém, numa visão macro, a lavagem de dinheiro causa impacto muito além do aspecto monetário. Esse crime percorre um longo caminho, com o objetivo de mascarar, para os órgãos reguladores e fiscalizadores, a origem ilícita de um determinado capital, deixando um rastro de outras atividades ilegais por onde passa. E, muitas vezes, são operações bem complexas, difíceis de mensurar os diferentes impactos.
Primeiro, vamos entender o que significa ESG (Environmental, Social and Governance), ou Eco Ambiental, Social e Governança, em português. O mercado tem usado alguns complementos para se referir ao conceito, como fatores ESG, práticas ESG, responsabilidades ESG e por aí vai.
Trata-se, na verdade, de uma evolução do que há muito tempo chamamos de sustentabilidade – mas numa dimensão agora bem maior –, quando as empresas buscavam ser mais eficientes sem agredir o meio ambiente e compensar os danos que suas operações causavam no entorno, por exemplo. Entram aí também as iniciativas com a reciclagem do lixo, descartes adequados, logística reversa, economia no consumo de recursos naturais etc.
Posturas mais responsáveis iam, sim, avançando, mas não era generalizado, não eram em todas as empresas – e até hoje ainda não são. Algumas organizações estavam, de fato, mais conscientes com ações efetivas, enquanto outras ou ignoravam totalmente os impactos que causavam ou tinham belos discursos, mas na prática nada faziam.
Como vínhamos de uma cultura corporativa voltada à produção em larga escala, ao lucro acima de tudo, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, nos anos de 1940, chegamos a um ponto, mais recentemente, em que o planeta deu sinais de que estava sofrendo.
É o que temos visto com a tão terrível crise climática. Além de mudanças na temperatura, diferente do que sempre foi normal, há fenômenos impressionantes: de tornados de fogo, como ocorridos no Canadá, Chile, Inglaterra, até chuva de bolas de gelo, como no Sul do Brasil, Itália, Estados Unidos, sem contar o degelo das geleiras nos polos.
Tudo isso ilustra os problemas relacionados ao E, do ESG. E são ocasionados pela ação cumulativa do homem, principalmente o desmatamento e o efeito estufa (danos na camada de ozônio), que estão causando o aquecimento global.
Já o S, de social, é o impacto sobre as pessoas. Há uma série de movimentos que defendem a necessidade de se pensar na população que está sofrendo de alguma forma. Combate-se o trabalho escravo, o trabalho infantil, a falta de condições adequadas para se exercer as atividades profissionais (que estão causando o adoecimento mental, como estresse, ansiedade, burnout etc.), salários indignos e até a falta de cuidados com os impactos que as empresas causam às comunidades no entorno de suas operações. Uma consequência é o que vemos hoje nas empresas que se esforçam nas frentes de diversidade, equidade e inclusão entre seus colaboradores.
Por fim, mas não menos importante, está o G do ESG. Na verdade, a governança tem de amarrar todas as pontas e garantir que a empresa como um todo cumpra as suas responsabilidades com o meio ambiente, com a sociedade e tudo o que se refere ao compliance (legislações, normas, regras, compromissos...).
São dois os aspectos. Uma operação de lavagem de dinheiro visa um lucro individual ou para um grupo, e quase sempre faltam escrúpulos a esses criminosos. O dinheiro, por exemplo, pode vir de um desmatamento irregular, que causa danos à flora, à fauna e às comunidades da região. Pode ser proveniente do tráfico de drogas, de armas e de pessoas, com prejuízos em diversos âmbitos. Pode ser através do comércio de artigos de luxo (jóias, obras de arte, carros...), que são frutos de assaltos e roubos. Portanto, são lucros para alguns em detrimento de outros.
O outro aspecto é que dinheiro lavado costuma financiar outras ações criminosas, como assaltos grandiosos, ações terroristas e por aí vai.
Percebe que sempre a lavagem de dinheiro vai contra as práticas eticamente responsáveis do ESG? Se uma empresa abraça os fatores ESG, ela tem de cuidar para não se envolver – ou ser inconscientemente envolvida – com lavagem de dinheiro. É importante porque pode até significar a sobrevivência corporativa. Lembre-se que os grandes fundos de investimento, como o BlackRock, passaram a focar a alocação de investimentos em empresas com esforços notadamente em prol da sustentabilidade.
Essa postura dos fundos veio na esteira do desafio lançado em 2004 – ou seja, quase 20 anos atrás – pelo então secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Kofi Annan. Ele pediu a 50 presidentes das maiores instituições financeiras do mundo para que integrassem fatores sociais, ambientais e de governança no mercado de capitais até 2030. A sigla ESG foi citada, pela primeira vez, em 2004, no relatório da ONU “Who Cares Wins” (Quem se importa ganha, em tradução livre).
Assim, se não for por amor, será pela dor (no bolso) que as empresas passarão a se importar, de verdade, com a sustentabilidade. Se não for por propósito, será pelo impacto no relacionamento com atuais e possíveis investidores e com todos os seus demais stakeholders. É um caminho sem volta.